domingo, 21 de janeiro de 2018

Expedição Canastra



Não à toa, começo meu relato pela foto: Há quase quatro anos, quando comprei minha viatura 4x4, programei refazer alguns roteiros da época da Geografia. Um destes, muitos alunos sabem disto, era (re)visitar a nascente do Rio São Francisco, para que ali pudesse registrar especialmente essa foto!! 

Mas como aventura boa tem que ser compartilhada, era hora de montar a equipe para a expedição. Ainda durante o mês de dezembro, ajustamos a data e fizemos o junta-junta dos bravos expedicionários: Leo Dias, Willian Japa, Wander e eu. Equipe pronta! Cada qual com sua motivação pela aventura, partimos para os detalhes do roteiro, hospedagem, custos, enfim... começamos a, de fato, organizar detalhes do nosso passeio.

Preparativos: Adesivo para identificar nossas viaturas 4x4
Partimos dia 15 de janeiro, saindo de João Monlevade. 

Parada no Amigão/ Roças Novas, seguindo para BH
Chegando em BH, encontramos nosso 4° membro, meu zequinha oficial, Leo Dias, velho companheiro da Geografia e o primeiro a animar a fazer nossa expedição.

Em BH, equipe formada!

Seguindo o aplicativo Waze, seguimos nosso caminho em direção à São Roque de Minas, passando por Bambuí.


Trecho final foi por estrada de terra (40 km), passando por uma usina hidroelétrica no rio Samburá, onde foi possível avistar, pela primeira vez, a queda da cachoeira Casca d'Anta.


Sobre a barragem da hidroelétrica no rio Samburá

Foto de Leonardo Dias
De águas límpidas e muita correnteza, o rio Samburá é conhecido na região de Bambuí devido à quantidade de peixes Tabarana e Dourado. A pesca é um dos seus atrativos em função dessa diversidade que o rio oferece.

Apesar de ser estreito e ter muitas pedras, o que dificulta a navegação, o Samburá possui diversas cachoeiras e é um local de grande beleza. O encontro entre as águas que correm pelos paredões da Serra da Canastra, formam uma espécie de Canyon gravado na planície mineira.

Enfim, um ótimo lugar para se visitar e um paraíso para pescadores. 
Fonte: http://www.descubraminas.com.br/Turismo/DestinoAtrativoDetalhe.aspx?cod_destino=497&cod_atrativo=4486

Primeira vista que tivemos da Casca d'Anta

A cachoeira da Casca d'Anta possui a terceira maior queda livre do Brasil com 160m de altura a maior do Rio São Francisco e está localizada dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra.
Fonte: http://www.serradacanastrapousadas.com.br/casca-d-anta-serra-da-canastra.html

Ao final de tarde, debaixo de uma fina chuva, chegamos em São Roque de Minas. Nosso destino final era o camping da Picareta. Mas antes, fomos comprar itens para nossa primeira refeição na Serra da Canastra!

Camping da Picareta

Preparando o jantar do dia


Segundo dia da expedição, acordamos cedo, tomamos aquele café passado no bom e velho coador de pano, deliciamos o típico queijo canastra, e batendo papo, interagindo com a turma do camping, acolhemos dois "malucos" motociclistas que estavam com a mesma sintonia de aventura e desejo de "descobrir" a Serra. Eles se tornaram os novos zequinhas e grandes camaradas da nossa expedição. Valeu!!! 

Definimos nosso roteiro do dia: Nascente do rio São Francisco, Parte Alta da Cachoeira Casca d'Anta e Cachoeira do Fundão.

O principal acesso deste roteiro é feito pela portaria 1, próximo à área urbana do município de São Roque de Minas. 

Portaria 1 e os novos zequinhas: Rafael e Abid (vulgo, Cabide). À esquerda da foto, o 1° e 2°, à frente do Vitara do Japa.
Primeiro e mais desejado (por mim) ponto de visitação foi a Nascente do Velho Chico. Foto almejada há uns 15 anos... 

Leo Dias e eu: Foto obrigatória para todo geógrafo.  

Nascente histórica do rio São Francisco
A nascente fica em um lindo vale a 1300 metros de altitude e a 6 km da portaria 1 pela estrada que atravessa todo o Parque. Uma placa de pedra indica o lugar onde o “velho Chico” começa a longa viagem de quase 3000 quilômetros até o litoral do Nordeste. A nascente não está claramente definida, mas é formada por dois pequenos córregos que surgem no meio de um charco. 

É um lugar singelo, com um pequeno capão de mata, uma ponte de madeira sobre o rio.
Fonte: http://www.serradacanastra.com.br/atracoes/outras-atracoes

Ponte de madeira sobre o rio

Capão de mata e trilha para a nascente do rio São Francisco

Próximo à nascente histórica do rio São Francisco existe uma imagem sacra.

São Francisco ou São Geraldo? Há controvérsias!!



De início, mesmo porque há uma prece do santo, deduzimos ser de São Francisco de Assis. Porém, na ocasião, conhecendo um pouquinho da história do santo protetor dos animais, despertou a atenção a imagem de um crânio. (Confesso que não conhecia nenhuma relação da igreja católica com caveiras.)

Chegando no acampamento, fui sondar com “seu Chico”, a história do crânio. E para nosso espanto, o profundo conhecedor de santos (como o próprio filho o trata) nos informou que a imagem não se refere ao São Francisco, e sim ao São Geraldo. Relatou que a imagem de São Francisco “oficial da cidade” está na igreja matriz e que não foi autorizado pela administração do parque nacional, em 1972, a colocação desta, dentro dos limites da área de proteção ambiental, uma vez que poderia virar um local de peregrinação e, deduzo, fatalmente aumentar os impactos próximo à nascente do Velho Chico.

Nosso mestre dos santos ainda brincou que São Francisco, lá do céu, deve ficar bravo, pois aquele que faz sua prece, está rezando aos pés de um “santo impostor”. (Que pecado, seu Chico...rsrsrs)

Com relação ao crânio, agora então, aos pés de São Geraldo, fica a informação que pesquisei na internet:

A caveira humana é tradicionalmente um símbolo da mortalidade e da vaidade nesta vida terrena. A caveira, então, chama nossa atenção para dois aspectos principais:

1) Mortalidade - contemplar que um dia vamos morrer. A caveira nos ajuda a acolher essa verdade.

2) Tudo é "vaidade" e um dia seremos reduzidos também à morte. Ajuda a pessoa a colocar suas opções em perspectiva que tudo terá seu fim. Somente o amor a Deus e ao próximo vai sobreviver à vida mortal.

São Geraldo Majela: A caveira que aparece muitas vezes próxima a São Geraldo simboliza, portanto, a morte física, o despego material em prol da vida espiritual.
Fonte: http://www.a12.com/redentoristas/vocacional/noticias/nos-pes-de-sao-geraldo-tem-uma-caveira-por-que

Seguindo para a parte alta da Casca d'Anta, vimos as primeiras espécimes da fauna da Canastra.
Coruja-buraqueira

Pelo caminho, o Curral de Pedras, uma boa amostra de uma das tradições mais notáveis da Canastra: os muros de pedra construídos sem argamassa. Nesse caso, as pedras constituem um imenso e bem preservado curral de formas arredondadas e com dois ambientes, construído para manejo do gado. É um muro “drobado” (dobrado), com imensos blocos de pedra arrastados com a ajuda de carros de bois. 

Também conhecido como Retiro dos Posses (nome de família dos antigos proprietários), o Curral de Pedras é o que restou de um antigo “retiro”, fazenda de uso temporário, geralmente no verão, quando o gado de leite era levado das partes mais baixas da serra o chapadão, planalto que caracteriza o alto da serra, onde desfrutava de melhores pastagens. Devido à destacada altitude em relação ao chapadão, o Curral de Pedras também é ótimo local para observação do pôr-do-sol.
Fonte: http://www.serradacanastra.com.br/atracoes/outras-atracoes

De dentro do Curral

Curral de Pedras

Rumando Parte Alta casca d'Anta
Foto de Willian Japa

Na parte de cima da Casca d'Anta... primeiro ponto de apreciação... 











Em seguida, as águas seguem em direção a um cânion rochoso, até despencar de uma altura de 160 metros de queda livre. Na parte de cima, existe um mirante de onde se pode observar muito pouco da grande queda, porém vale a pena ver o lindo visual das corredeiras do Velho Chico e o Vale da Canastra.
Fonte: http://www.serradacanastra.com.br/atracoes/outras-atracoes

Vista pós queda do rio São Francisco

Curso do rio São Francisco

Do ponto mais alto da parte Alta da Casca d'Anta



Foto de Leonardo Dias

Em ação com uma Nikon 5300, lentes 18-55mm e 55-200mm

Vista do alto à montante, antes da queda.

Seguindo nosso roteiro do dia, partimos em direção à Cachoeira do Fundão. Durante o trajeto, pudemos observar e fotografar o majestoso Gavião-Carcará.

Imponente Gavião-Carcará

Localizada à 52 km de São Roque de Minas, a cachoeira do Fundão destaca-se pela beleza do conjunto: as águas límpidas do rio Santo Antonio despencam de uma altura de 80 metros diretamente numa piscina natural de forma arredondada, que recebe sol praticamente o dia todo. Uma enorme pedra que desponta da água próximo à borda da piscina serve de trampolim. Os visitantes  mais ousados podem se divertir passando por trás da cortina d’água ou nadar até a gruta ao lado, formada nos paredões da cachoeira e que serve de abrigo para andorinhas migratórias. A mata ciliar completa a cena magnífica em torno da piscina e ao longo do rio.

Para chegar à cachoeira, é preciso percorrer boa parte do Parque Nacional pela estrada principal e depois um caminho secundário não sinalizado. O percurso todo tem conservação precária, especialmente os últimos 10 km, e só deve ser feito em veículos 4x4 (com os zequinhas aventureiros Abid e Rafael  nos guiando)

Na paisagem, de grandes vistas panorâmicas, é possível avistar animais típicos da serra, como o lobo-guará*, o tamanduá-bandeira e o veado-campeiro*.(*fotos na sequência)

Chegando a casa sede da fazenda, há uma trilha leve, de aproximadamente 1,5 km, até a cachoeira.
Fonte: Texto Adaptado, http://www.serradacanastra.com.br/atracoes/outras-atracoes

De acordo com informações de moradores locais, a área da cachoeira do Fundão está em processo de desapropriação e posterior anexação ao Parque Nacional, afim de preservação ambiental. Na casa sede da fazenda encontramos um senhor, que segundo seu relato, presta serviço ao ICMBio, controlando o acesso e fazendo manutenção da trilha.

Cachoeira do Fundão: primeira vista durante a trilha

Cachoeira do Fundão

Poço da Cachoeira do Fundão

Cachoeira do Fundão

Cachoeira do Fundão

Meta do dia CONCLUÍDA...




PORÉM, mais surpresas nos aguardavam...

A fauna da Canastra nos prestigiou ao final da tarde...

Veado-Campeiro. Na ocasião, tinha um filhote que deu fuga antes do click.

Lobo-Guará

Para mim, o Lobo-Guará é a espécie mais representativa do cerrado brasileiro (motivo de ter escolhido sua silhueta para a arte do adesivo da expedição). Consegui, num raro momento de aparição junto à estrada, fazer alguns clicks. Fiquei simplesmente extasiado ao vê-lo! Toda a viajem já teria valido a pena neste momento!


O lobo-guará é visto normalmente no fim do dia, caminhando elegantemente pelas áreas de campo. Não apresenta grandes riscos aos humanos, só atacando quando se sentem ameaçados, sendo esse comportamento muito raro.

Esse lobo é uma espécie de mamífero que vive principalmente no cerrado brasileiro e é considerado o maior canídeo Sul-Americano. Além do território brasileiro, ele pode ser visto na Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru e Uruguai. Seu nome científico é Chrysocyon brachyurus e apresenta parentesco com os cachorros domésticos e os lobos selvagens.

De pernas longas, orelhas grandes e pelos de cor laranja-avermelhada em grande parte do corpo, esse animal atinge até um metro de altura e chega a pesar até 30 quilos. Apresenta uma região no dorso e nas patas dianteiras e traseiras com pelos pretos. No pescoço do animal, no interior das suas orelhas e na cauda, os pelos são brancos.
Fonte:http://escolakids.uol.com.br/loboguara.htm 

E depois de tantas paisagens exuberantes, depois de tantas emoções, com alma livre, mas com corpo cansado, precisávamos de energia... nada melhor que uma cerveja gelada e um banquete servido pelos nossos amigos de aventura...

Mais uma vez, valeu ao Abid e ao Rafael!!! 
FIM DO SEGUNDO DIA...

Terceiro dia de expedição, por problemas técnicos, ficamos sem a companhia do Japa. 

Nosso destino, como prioridade, era fazer a Parte Baixo da Casca d'Anta. Sendo assim, por volta das 11h seguimos sentido Vargem Bonita. O principal acesso de carro é feito pelo Distrito de São José do Barreiro.

O trajeto por si só já vale pelas lindas paisagens.

Vista da Serra da Canastra

Queda Casca d'Danta

Tô muito bem de Suzuki

O acesso à base da cachoeira é feito por trilha que fica dentro de uma área de mata ciliar, às margens de corredeiras de águas cristalinas e geladas.

Trilha acesso Casca d'Anta

Queda Casca d'Danta

Trilha acesso Casca d'Anta

Trilha acesso Casca d'Anta

Queda Casca d'Danta

Faltou o Japa! Sobraram dinamarquesas... 

Queda Casca d'Danta, bem próximo ao poço
A partir de um determinado ponto, dissipava-se, com o vento, muita água da cachoeira... ficamos molhados como se estivéssemos numa forte chuva, portanto tornou-se impossível continuar a fotografar com as câmeras que portávamos.

Foto mais próxima da queda da Casca d'Anta

Da parte de baixo é possível avistar por completo a grande queda, a qual despeja suas águas em um poço grande e profundo.

Após vermos a queda da Casca d'Anta, voltamos alguns metros pela trilha até conseguirmos acessar o curso d'água para um mergulho. 




Merecido banho de Cachoeira. Primeiro do ano!
É Minas, uai!















Meta prioritária do dia concluída, mas estávamos dispostos a mais uma cachoeira, sendo assim, partimos para a Cachoeira das Sete Quedas, também conhecida como cachoeira da Chinela.

 A Cachoeira das Sete Quedas está localizada a 4 km de Gonçalves, em uma propriedade particular, seguindo pela estrada de terra em direção ao distrito de São Sebastião, entre São Roque de Minas e Vargem Bonita.


Cachoeira da Chinela

Parte alta da Cachoeira da Chinela

Trilha Cachoeira da Chinela

Segundo banho de cachoeira do dia... Cachoeira da Chinela

Cachoeira da Chinela

Outro grande encanto do local, além da cachoeira, é a simplicidade do senhorzinho que controla a entrada em sua propriedade que dá acesso a cachoeira. É um clone "minerim" do Pepe Mujica. Só faltou o fusca azul em seu sítio. No caso, nosso Mujica tem mesmo é uma viatura 4x4, como é comum por lá. 

Prova da simplicidade e simpatia deste povo tão agradável são suas plaquinhas de avisos...


Fim do terceiro dia...

Para o quarto dia, havíamos destinado "dia livre", ou seja, não tínhamos um roteiro definido e programamos tudo pela manhã. 

Com o Japa ainda resolvendo os problemas técnicos do dia anterior, fui turistar pelo centro da cidade de São Roque de Minas.

Igreja Matriz/ São Roque de Minas















Fizemos uma rápida visita a Cachoeira Capão Forro. O acesso a partir da estrada do Parque Nacional, portaria 1. A origem do nome tem a ver com a época dos quilombos que existiram em toda a região da cabeceira do São Francisco. A palavra “forro” viria de alforria e “capão” significa mata. Tradução: mata do liberto ou do escravo livre. A área engloba 2 fazendas e há 2 trilhas principais: a que leva à Cachoeira do Mato e a Trilha da Picareta, que leva ao camping do mesmo nome, na Fazenda do Chico Chagas (local que montamos base). Há outras duas cachoeiras mais próximas, de fácil acesso a partir da entrada principal. 



Cachoeira Capão Forro











Após tudo ajeitado, partimos em direção a Vargem Bonita para explorar outras cachoeiras pela região, mas outro infortúnio ocorreu. Tivemos que retornar a base, onde fomos churrasquear.  

Quarto dia, data de nosso retorno, fizemos um rápido turismo histórico- religioso para registrar algumas igrejas das cidades próximas.

Imagem de Imaculada Conceição de Virgem Maria


Igreja Matriz de São Francisco de Assis/ Vargem Bonita

Igreja São Sebastião/ Campinópolis, Vargem Bonita




Igreja N. Sra. do Rosário/ Piumhi



E assim, após mais de 1100 km, com gostinho de "quero mais", concluímos nossa Expedição Canastra, com a certeza que repetirei este destino em outra oportunidade.

Finalizo agradecendo a minha solidária e compreensiva esposa por ter me "liberado" e "segurado as pontas" nestes 4 dias. Queria muito ter feito o roteiro com a família a bordo. A próxima será com vocês!!!

Agradeço também aos expedicionários companheiros. Foi tudo ótimo!  Conto com vocês para outras aventuras nesta terra brasilis.

ps: a quem interessar ver todas as fotos da expedição, acesse: 
https://www.facebook.com/cleverson.desa/media_set?set=a.1486432871454236.100002626138979&type=3

Até a próxima!!!